Tive a grande satisfação de conversar com a Folha de S.Paulo para a matéria “Entenda o termo emocionado em relacionamentos”, publicada na editoria Equilíbrio. A repercussão foi imensa e gerou um debate muito necessário, o que me deixou imensamente feliz. Ver um tema tão presente no consultório e na vida cotidiana ganhar um espaço tão nobre me motivou a aprofundar a reflexão aqui com vocês.
Afinal, por que a palavra “emocionado(a)” se tornou uma espécie de acusação nas relações modernas?
Vivemos em uma era que glorifica o desapego. As interações, especialmente no início dos relacionamentos, são frequentemente vistas como um jogo estratégico. Nesse “tabuleiro”, demonstrar sentimentos de forma genuína e rápida é visto como um movimento ingênuo, quase como se você estivesse revelando suas cartas cedo demais.
O termo “emocionado” surge, então, como um rótulo pejorativo para desqualificar quem ousa fugir a essa regra. Ele carrega consigo a ideia de descontrole, carência ou até mesmo desespero. Mas será que é isso mesmo?
Minha análise, como psicóloga clinica, é que esse rótulo diz muito mais sobre a nossa cultura atual do que sobre o indivíduo que sente. Ele evidencia que em uma sociedade de interações superficiais, ser vulnerável é assustador. Rotular o outro de “emocionado” é uma forma de se defender, de criar distância para não ter que lidar com a própria vulnerabilidade.
Essa pressão é sentida de formas diferentes. Homens são ensinados desde cedo a vestir a armadura do “não chora”, e qualquer demonstração de sensibilidade pode ser vista como uma falha na sua masculinidade. Mulheres, por outro lado, andam numa corda bamba: se demonstram interesse, são “intensas demais”; se não demonstram, são “frias”. É uma armadilha que alimenta o jogo e sufoca a autenticidade.
Aqui está o ponto central que eu gostaria de expandir: ser “emocionado” é, na verdade, um ato revolucionário.
Em um mundo pós-pandêmico, onde ansiamos por conexões reais, e em meio a uma digitalização que nos torna cada vez mais distantes, quem tem a coragem de sentir e demonstrar está remando contra a maré da frieza. É uma forma de rebeldia saudável.
Ser “emocionado(a)” não é sobre falta de inteligência emocional. Pelo contrário. Pode ser o mais puro sinal de autenticidade e Inteligência Relacional que significa relacionamentos construídos com base na verdade e na expressão, e não na omissão.
Ser “emocionado” não é um defeito a ser corrigido, mas uma característica a ser bem direcionada. É a sua humanidade pulsando, viva e em busca de conexão. E, sinceramente, não há nada de errado nisso.
Gostaria muito de saber a sua opinião. Você já foi rotulado(a) ou já rotulou alguém de “emocionado”? Vamos continuar essa conversa nos comentários!