A delicada dança entre o Real e o Virtual

Vivemos tempos em que a linha entre o real e o virtual se torna cada vez mais tênue, e histórias como a de Akihiko Kondo, que se casou com um holograma da cantora virtual Hatsune Miku, nos convidam a refletir sobre essa nova forma de convivência. Kondo, um ator de 35 anos, encontrou no holograma uma companheira que, para ele, representa um amor verdadeiro. Gastou uma quantia considerável em uma cerimônia de casamento, mesmo sem a presença de seus parentes, e vive com um holograma móvel de Miku, considerando-se um homem casado comum.

Essa escolha, embora incomum, nos leva a questionar: o que estamos buscando ao trocar a convivência real pela virtual? Kondo se vê como parte de uma “minoria sexual”, incapaz de se imaginar em um relacionamento com uma mulher de carne e osso. Essa realidade nos faz pensar sobre o papel da tecnologia em nossas vidas e como ela pode, ao mesmo tempo, preencher e criar vazios emocionais.

A artista multidisciplinar Alicia Framis também nos oferece uma perspectiva única sobre a solidão e a intimidade na era moderna. Por meio de suas intervenções artísticas, Framis busca recuperar espaços sociais para os desprivilegiados, abordando o isolamento e a solidão que muitos enfrentam nas cidades. Seu trabalho “Arquitetura Proibida” e o projeto “Loneliness in the City” são exemplos de como ela explora a convivência humana, criando ferramentas para ajudar as pessoas a viverem melhor juntas.

Framis nos lembra que, embora a tecnologia possa oferecer soluções inovadoras, como a possibilidade de relacionamentos com hologramas, é essencial não perdermos de vista a importância da conexão humana genuína. Ela explora como a inteligência artificial pode diminuir o sentimento de solidão, mas também nos convida a refletir sobre o que significa realmente estar presente para o outro.

Em um mundo onde a pandemia de Covid-19 intensificou a sensação de isolamento, as telas inspiradoras de Framis iluminam a escuridão, oferecendo esperança e novas formas de interação. No entanto, é crucial lembrar que a convivência real, com suas imperfeições e desafios, é insubstituível. É na troca de olhares, no toque e na presença física que encontramos a verdadeira essência das relações humanas.

Assim, ao nos depararmos com histórias como a de Kondo e as intervenções de Framis, somos convidados a refletir sobre o equilíbrio entre o real e o virtual. Que possamos valorizar a convivência real, sem deixar de explorar as possibilidades que o mundo virtual nos oferece, mas sempre com um olhar afetuoso e atento às necessidades humanas mais profundas. Afinal, é na convivência autêntica que encontramos o verdadeiro sentido de pertencimento e amor.